terça-feira, julho 13, 2010



São sempre flashes, memórias de alguém ou minhas mesmo de alguma outra vida ou desta esquecida. Esta vida que andava tão esquecida e que começa a despertar com uma faísca de inspiração daqui e dali ao observar os detalhes, os pormenores.
E aí que eu acordo caminhando por Paris acerca de Montmartre, um sol das 11 da manhã esquentando o que restou de montinhos de neve derretida aos cantos das paredes de tijolos seculares. A rua de paralelepípedos semi-escorregadia encontra-se cheia de transeuntes. Mulheres vestidas com longos vestidos coloridos e os homens de chapéus cores pastel observando os inúmeros artistas que demonstram suas obras de arte particulares, quadros mostrando cenas bucólicas de um século perdido margeando o rio Senna, castelos em colinas verdes e charretes passeando com suas damas desfilando a última moda da Belle Époque. Do outro lado da rua, um senhor de idade avançada toca seu violoncelo arrancando palmas de quem passa por ali. Impossível não aguardar uns minutos apreciando o irresistível som original de grandes compositores europeus e ao fundo, mesclando com as inconfundíveis badaladas da Sacre Coeur. As ruas tortuosas que levam ao Moulin Rouge me presenteia com formidável vista de uma Paris burguesa e próspera ao fundo, telhados brilhando com os restos de neve ao refletir os raios solares daquela agradável manhã. Apenas uma cena que veio a me alegrar, uma cena minha ou roubada de alguém, mas integrante da minha realidade que se fez ao imaginar os detalhes e a essência do bem-estar parisiense. Agora meu Paris.

quinta-feira, julho 08, 2010


Ontem eu era um garotinho triste, que cambaleava pelos cantos, que não sabia andar sozinho e precisava segurar na mão de alguém pra sentir um pouco do calor da vida, porque as paredes eram gélidas e o piso frio. Os pés descalços sentiam o endurecer dos nervos e a espinha que vibrava em espasmos de arrepios esporádicos. Não havia luz, sol, não havia nada só havia você, a única pessoa que podia me indicar o caminho da felicidade. Aconteceu que você um dia também resolveu partir e mais uma vez me vi sozinho percorrendo aqueles gélidos caminhos e ainda anoitecera e então eu pude perceber que só dependia de mim. Foi então que após chorar aos prantos eu peguei um galho de folhas secas caído ao chão. E mais um e mais outro e outro mais. Coloquei-os ao meu redor e construí uma cabaninha. Com uma pedra eu risquei o chão. Desenhei numa linha do tempo tudo o que eu queria ser dali ha tantos anos, minutos ou segundos. Eu me desenhava e percebia quão difícil era fazer o sorriso. Tudo saía perfeitamente representado, mas como era difícil sorrir por dentro. Como era difícil acendar a luz que me guiaria pela noite fria. Mas como tudo na vida eu sempre tinha uma escolha. Deitar e esperar os lobos na calada da noite ou lutar pela sobrevivência do ser, e foi então que peguei outra pedra e comecei a riscá-las com força. Ao mesmo tempo em que derramava as últimas lágrimas insuficientes para esquentar a minha face, eu esfregava as pedras com mais e mais força. Foi quando deu-se uma faísca e dela fez-se o fogo onde antes adormecia os galhos secos. Os lobos uivaram, já estavam próximos esperando o melhor momento para atacar, mas ao verem o fogo dispersaram-se enquanto esquentava minha alma e pegava gosto pela sobrevivência e com ela os planos de caminhar diferente, de usar o mundo à minha volta para continuar percorrendo e ver oque me esperaria após aquela colina. Aos poucos, foi voltando o espírito aventureiro, a vontade de desbravar novos caminhos e direções e quando me vi sozinho, não mais precisava de ninguém para me esquentar pois o fogo eu mesmo fazia e o mundo estava a me esperar...

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Dialética da Vida
Os ares do campo distantes daqui, o cheiro do mato, da terra, do orvalho me traz a lembrança do silêncio e o som dos passos abafados pela grama úmida após uma noite de chuva aguça os instintos e renova a essência do ser. O balançar da rede, o zumbido de abelhas e o som do trem passando ao longe, onde a vista nem alcança, escondido pela mata e pelo morro. Um túnel de pedras, a estrada de ferro, linhas paralelas que se cruzam no horizonte e ao lado, o nada e o nada e mais nada. Centrar os pensamentos numa linha que te leva em frente sem nada para dispersar pensamentos. É a vida me levando à algum lugar, escondido no infinito. Nunca chegarei lá? O que tem lá? Quem é o lá? Lá não serei mais eu. serei eu, mais o que ocorrer enhtre aqui e lá. Serei outro. É o que espero. Mas... por que espero mudar? Mudar o quê? Chegar aonde? Mesmo sem saber prefiro caminhar mas poderia parar. E se parar? Quem disse que preciso continuar? Busca insana de significados! Dialética que me persegue e me faz sair do lugar, e me empurra à frente, passo a passo que me faz pensar. mas se eu sair daqui e der uma volta ao mundo e aqui voltar. Ainda serei o mesmo? mesmo estando no mesmo lugar? O que fazemos com a história? Infinitos pontos ocupam um mesmo lugar no plano. Uns nasceram agora outros morreram aqui, outros estão à passeio, mas o tempo guarda o paralelismo das realidades de cada um de nós.