sábado, agosto 29, 2020

Amou

 Amou de menos

Pra ele tudo era pouco

Muito era a vida

Vida que investia ferozmente

Que abocanhava planos e desejos

Virando as páginas sem dar o tempo

De assimilar as velozes palavras 

Borrões de sentimentos


Amou demais

Quando amar de menos era pouco

Quando a vida enganava a morte

Em passos lentos, 

Frequência do viver

Ponteiros de um relógio

Marcando sempre o mesmo horário

Pulsando o sangue entre as veias

Num tic-tac persistente

Que lhe empurrava sempre à frente



Amou sem medo

Quando viu que o mundo era finito

Quando deixou de olhar o chão

E encarou o horizonte

E quis olhar o que tinha lá

Depois das corcovas da montanha

Aquele prêmio que não se alcança

Mas se persegue

Como o final de um arco-íris


Amou de perto

Quando quis que os corpos se confundissem

Quando quis respirar a vida alheia

E entregar o sopro de sua própria

Quando quis ludibriar as leis da física

Fazendo dois se tornar um


Amou de longe

Quando entendeu que o que importa

Quando não há posse nem espaço

Pra tanta ausência e relevância

Nem persistência tampouco esforço

Pra que aquela mesma frequência

Do tic-tac constante e etéreo

Ressoasse no universo

Do abrir ao fechar dos olhos

Um infinitésimo

Num infinito sentir