segunda-feira, julho 02, 2012

Urgência



Eu preciso escrever. Eu preciso escrever! Me dá a urgência, me torce as entranhas, o espinho pinçando minha alma inquieta. Eu preciso escrever. Eu preciso escrever! Se não escrevo começo a pintar o quadro barroco mais rebuscado, o fim do romantismo inacabado. A tinta preta infinita que vai sombreando os arredores restando apenas um foco de luz aqui e outro ali. Um anjo que chora abraçado por suas próprias asas quebradas. Um manto negro guardando o homem abaixo dele para tirar um pouco mais dessa luz que incomoda e insiste em cegar meus olhos. Coloca o vermelho, e pinta de negro! Não esquece do preto, não esquece do sangue! Não quero o amarelo, não quero o branco. Eu quero aconchego, eu quero dormir. Eu quero dormir. Só consigo acordado. Agora sei que os sonhos são feitos para viverem despertos, de outra forma nada servem senão vagas lembranças de algo que nunca foi. Quando me pego nestes momentos minha mente divaga muito além de onde deveria ir e me pergunto se eu sei o que é viver da forma como deveria ser. Por quê tanto descontentamento quando vejo pessoas felizes e realizadas, eu mesmo quando estou no transe me sinto realizado, mas ao sair dele ou entrar nele já não sei, tudo volta de uma maneira avassaladora. Minha alma grita por liberdade, por novos ares, o que me faz pensar que nós todos vivemos dopados, vivemos remediados pela vida. Quando tudo acalma está tudo certo mas e quando a turbulência chega, quem é que vai me segurar? Até hoje consegui atar-me ao que realmente está ao meu alcance. À pessoas e seus ideais. Mas são pessoas e o que são delas não é meu. Será esse meu sentimento de eterno estrangeirismo? Estou cansado de viver os outros, de me sentir os demais. Quando me procuro o que eu acho é esse eterno descontentamento que me inquieta e me confunde e que me faz ter esses momentos em que só penso em escrever, escrever, escrever...eu preciso escrever!