sexta-feira, novembro 10, 2006

Lisos Cabelos


Cabelos. Lisos cabelos.
Na gélida noite uma brisa noturna penetra nas frestas de minha janela e aguça o olfato trazendo das ruas odores de vidas perdidas e mundos sem vida e vidas vividas. E eu só. Parede. cama. Canto. Vultos da noite balançam e dançam de um lado pra outro. Instigam meus olhos não mais presos aqui, quando atravessam os portais de Hermes.
Cabelos. Lisos cabelos.
O vento que sopra leve, delicada eficácia ao gelar a espinha, estremecendo o corpo por inteiro torpor.
Há cinco minutos era cama, canto, parede, onde agora há alguém na penumbra que me olhando. Nada se vê além de profundos olhos azuis que me encaram como faróis numa noite nascida na superstição. Não havia ninguém, eu juro! Pela minha alma agora vendida e com ela pagarei contente, por ter aquela presença, ali ao meu lado, pertinho e cada vez mais próximo e presente! A luz que vinha das frestas iluminou a pálida face e pude ver carnudos lábios que se aproximavam dos meus exalando seu hálito de rosas vermelhas e eucalípto, enquanto seu olhar azul e ofuscante, se tornava branco e intenso, atravessando meu ser, atingindo minha alma certeiro. Fechei meu olhos e ali fiquei, acariciando aqueles cabelos. Lisos cabelos de anjo. Eram cinza dourado, mais cinza que dourado, no luuar quase branco ficavam. e eram lisos, mais lisos que um bebê. Perfumados e lisos. Naqueles cabelos, lisos cabelos perfumados adormeci.