Amou de menos
Pra ele tudo era pouco
Muito era a vida
Vida que investia ferozmente
Que abocanhava planos e desejos
Virando as páginas sem dar o tempo
De assimilar as velozes palavras
Borrões de sentimentos
Amou demais
Quando amar de menos era pouco
Quando a vida enganava a morte
Em passos lentos,
Frequência do viver
Ponteiros de um relógio
Marcando sempre o mesmo horário
Pulsando o sangue entre as veias
Num tic-tac persistente
Que lhe empurrava sempre à frente
Amou sem medo
Quando viu que o mundo era finito
Quando deixou de olhar o chão
E encarou o horizonte
E quis olhar o que tinha lá
Depois das corcovas da montanha
Aquele prêmio que não se alcança
Mas se persegue
Como o final de um arco-íris
Amou de perto
Quando quis que os corpos se confundissem
Quando quis respirar a vida alheia
E entregar o sopro de sua própria
Quando quis ludibriar as leis da física
Fazendo dois se tornar um
Amou de longe
Quando entendeu que o que importa
Quando não há posse nem espaço
Pra tanta ausência e relevância
Nem persistência tampouco esforço
Pra que aquela mesma frequência
Do tic-tac constante e etéreo
Ressoasse no universo
Do abrir ao fechar dos olhos
Um infinitésimo
Num infinito sentir
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