terça-feira, agosto 18, 2015

Isso tudo não me define.



Só por hoje tive vontade de escrever sobre o momento de instabilidade política (econômica, social, ...) em que vivemos.

Há alguns meses atrás vesti minha camisa do Brasil que havia comprado para assistir à Copa do Mundo de 2014 e que na ocasião não tinha me servido para muita coisa. Achei uma boa oportunidade para fazer valer o verde-e-amarelo, sofrido e cansado,  dormente em meu interior. Apesar das chacotas e ironias provindas de amigos e conhecidos pró-PT ou anti-PSDB, eu fui assim mesmo como tantos outros amigos, conhecidos, família e desconhecidos, convicto de meus ideais, protestar por um sentimento comum, exigindo mudanças. Do jeito que o país se encontrava não havia mais condições de prever algo bom para nossa sociedade no futuro próximo e também no mais distante. Mesmo em meio a fanáticos de direita, militantes e militaristas entre outros grupos que não me identificava, eu estava lá representando algo em que acreditava. Um pouco deslocado sim, mas não acharia um lugar só meu ali, ou em lugar algum, afinal vivíamos em uma democracia. Sentia que em um Brasil polarizado como estávamos vivendo, mesmo não concordando com tudo que vi, li e escutei naquele dia, aquele era o lado certo, o que conscientemente escolhi estar.

Passado um tempo, um novo grande protesto foi marcado para acontecer em todo o país. Neste eu resolvi me ausentar. Achei que o radicalismo estava instaurado nos idealizadores do evento e aquilo tudo não me representava mais, mesmo sendo contrário às medidas recentes tomadas pelo governo federal, as falcatruas e robalheiras que apareciam aqui e acolá e ao caminho em que estávamos fadados a trilhar. Enquanto isso via meu país já não tão amado assim desmoronar. A presidente envolvida numa sucessão de erros e gafes, perdendo o respeito e a aprovação popular até mesmo ante aqueles em que tinha apoio até então incondicional. O Brasil ficava caro demais para o bolso do trabalhador comum. (eu). O dólar subia altas colinas impossibilitando pensar em viagens para fora de nossas fronteiras acabando com minhas expectativas de férias. Aqueles que me conhecem sabem quão valor eu dou às experiências adquiridas fora do país e o contato com outras culturas. Isso sempre definiu meu ser e de repente me vi podado de praticar meu refúgio, minha terapia, minha própria meditação. A água esgotava em nossas represas. A energia dobrava de valor de um mês para o outro. O desemprego subia enquanto via amigos se sujeitarem a ganhar metade do que ganhavam para poder manter uma renda. A coisa não estava mais fácil para ninguém.

Em meio a isso tudo, surgiu uma terceira grande manifestação no país. Assim como a outra, optei pela ausência. Após receber chamados de amigos e familiares para comparecer à Paulista, relutei mas acabei indo. Mais para vê-los que para protestar por algo.

Foi aí que percebi que algo estava errado com aquela realidade quando resolvi trocar uma camiseta que eu usava na ocasião, de cor vermelha, para poder ir para à Paulista. Tive medo de ser hostilizado por vestir suposta bandeira pró-PT. Tive medo das pessoas. De seu fanatismo, de sua cegueira. Já na avenida, passava incomodado entre todos pedindo licença para passar, Parecia uma horda de zumbis gritando palavras vazias, de ódio e opressão. Jovens pedindo a volta do militarismo, eles que nunca passaram por aquilo. Ódio à bandeira do PT e aos atuais governantes. Eu então perdia a total identificação por aquilo tudo e não consegui gritar um só "Fora Dilma", um só "Fora PT". Não porque goste ou sou a favor deles, pelo contrário, repudio tudo que fizeram conosco, mesmo não sendo os únicos em nossa história, mas da forma que fizeram, da forma que nos sugaram. Mas percebi que acima de tudo eu tenho valores que me foram muito bem educados. A cegueira e o fanatismo, a solução pronta vendida pela oposição que nunca existiu tampouco, não me representava jamais. Olhei para os lados, reparei bem quando percebi que ali só se via a burguesia paulistana. Somente a burguesia. Sim, aquele era um movimento de ricos. Pobre de mim! Onde é que estava a verdadeira população paulistana e brasileira, aquela que pega diariamente de duas a três horas de transporte público abarrotado pra ir ao trabalho, onde estavam aqueles que ganhavam o salário mínimo corroído pela inflação que voltara com força, onde estava aqueles que sofriam realmente com a falta de água e os que não podiam pagar a conta da energia elétrica? Não estavam lá. Eu via madames com roupa de grife batendo em panelas francesas. Eu via grupos e mais grupos de pessoas tirando selfies com amigos, com a polícia, com os carros (alegóricos). Onde eu estava? Em um protesto? Numa festa rave verde-e-amarela? Num encontro de familiares e amigos?  Eu pelo menos não vi as pessoas certas em meio a milhares de outras, aquelas que realmente estão passando dificuldades reais e não aquelas que não conseguem mais fazer compras em Miami..

Acabei de ler uma reportagem ( o qual me motivou a escrever este texto)  de um fotógrafo-jornalista que ao clicar uma encenação feita por uma atriz coberta de sangue (ketchup) em meio à bandeira brasileira, em referência à chacina ocorrida em Osasco dias antes (promovida provavelmente por policiais em resposta à traficantes), presenciou agressões àquela atriz e posteriormente à ele mesmo quando questionava as pessoas que a agredia seus motivos. Achavam que era um movimento pró-PT no meio de uma manifestação "democrática" ao ver a bandeira avermelhada de "sangue".

Neste momento eu me sinto perdido. Cidadão de um país sem representantes verdadeiros daquilo em que acredito.
Tanto os que estão no poder quanto os que almejam o poder, nenhum deles me serve. Acredito também que nenhum deles servem para o país. Qual será nosso futuro? Não sei. Apenas não tiro o pessimismo de meus pensamentos quando vejo quem está aí com a solução para nossos problemas.

"Que país é esse?" - indagava Renato enquanto Cazuza já respondia: "A burguesia fede".

E fede mesmo.



PS: A reportagem do jornalista Matheus Jose Maria está neste link:
https://medium.com/@matheusjosemaria/o-dia-em-que-me-tornaram-petista-e5faa2b4e91


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